by Guilherme Buesso

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Contos: ROUBO À COROA HOLANDESA (parte 1)

    Passaram-se dois meses desde o caso do crime disfarçado de Moortje. O que implica na minha  disponibilidade para casos criminalísticos, não tenho ninguém para me dar o prazer da visita, trazendo um caso novo e interessante. Por isso, tenho que ir á delegacia e selecionar casos que merecem ser pegos e julgados a minhas análises. Consigo resolver todos os casos fúteis com quais me deparo no mesmo instante em que os vislumbro, não há casos interessantes que testam as minhas capacidades como antes. Oficial Fritz Van Persen, o único conhecido com quem converso, está cogitando mudar-se para Londres, não seria abatido nem ficaria deprimido, apenas me posiciono no fato de que ele é o único com quem troco informações sobre crimes.
    Em uma de minhas visitas monótonas, que esperava não ver nada de útil novamente na delegacia, todos comentavam sobre o assalto á coroa holandesa, que, de fato, foi roubada. Estranhei o conteúdo do feito, já que a o castelo do Rei é bem protegido, tanto interna, como externamente. Como não tinha lido o jornal daquela manhã, não tomei conhecimento dos fatos detalhados que descreviam os desesperados jornalistas e colunistas. Descreveram tudo brevemente, os fatos crus da manhã ainda não era tão concretos e, de certa forma, estavam sujeitos a sofrerem mudanças de acordo com o passar do dia:

    Por volta das 7h30 da manhã, as ruas próximas ao Palácio Real já estavam em fervor, com comerciantes de rua já armando suas tendas comerciais, foi ouvido um estrondo que assemelhou-se a um estouro de vidro, mas não houve posteriores alaridos. Nisso, roubava-se a cora holandesa de seu devido posto, na sala de estar do castelo. Ainda não há indícios nem pistas indicando supostos criminosos, nem como os soldados reais foram abatidos, os que zelavam a portaria principal, e a copa, onde os soldados internos reuniam-se. De acordo com o Rei Guilherme III, seus soldados foram encontrados mortos na porta de seu quarto, espalhados, um deles estava obviamente morto, com os pulsos cortados e possuía mais manchas de sangue do que os outros. O Rei supôs que ele liquidara seus aliados para depois matar-se. O resultado, ainda é um mistério.
 
    Nem cheguei a me encontrar com Van Persen na delegacia, eu queria este caso. É, sem dúvida, um dos mais intrigantes que já resolvi. Dei sinal para o primeiro cabriolé que avistara e informei ao cocheiro: "Leve-me ao local do crime á coroa holandesa!". Atendendo, fomos rapidamente por ruas esburacadas, eu presumo que ele tenha entendido a gravidade de minha intonação na voz, e foi depressa.
    Lá, mesmo com o feito, as ruas na proximidades da moradia real estavam funcionando com seu comércio normalmente. Esperava ver horror estampado na face dos comerciantes, que mal poderiam vender de tão impressionado que ficaram, mas não. Havia um senhor, dono de uma tenda de frutas cítricas, que lia no jornal a respeito do atentado. Usava uma boina listrada cor de mel, uma camisa rosa clara e uma calça negra presa num suspensório roxo. Seu bigode mostrava-me que era um homem convicto e certo de suas atitudes. As marcas de lama até a superioridade de seu sapato, indicavam que era de um lugar afastado, onde há muita lama acumulada, vinha das fazendas. Além da aparente profissão de agricultor de frutas, cultivava também rosas que deduzia-se através dos furos provocados pelos espinhos do caule que a flor possuía. Sempre trabalhou neste ramo, pois seus olhos verdes azulados cansados, e suas mãos calejadas profundamente, indicavam e comprovavam os sintomas.
  — Seu histórico com plantio nas fazendas é admirável. Costuma vender as rosas que planta? — perguntei, vendo um de seus jornais espalhados por sua bancada que havia na tenda.
  — Como sabe que planto rosas além de frutas, além de tudo, nas fazendas? — questionou, abismado porém sem abandonar a postura cordial.
  — Meu caro senhor, qualquer mágico que se preze não revela seus truques. Senão, eu não teria essência alguma em minha profissão incomum — retruquei, fechando um caderno de notícias e estampando um sorriso falso dentre as orelhas. — Não vim aqui adivinhar decorrentes profissões de pessoas, sr. Hendrik. Gostaria de lhe fazer algumas perguntas referentes ao caso do roubo que houve hoje mais cedo. Sei que esteve aqui.
  — Como sabe meu nome?! — arregalou os olhos o agricultor.
  — Ora, este foi bem fácil. Está escrito na toalha de sua bancada.
  — Oh, claro — envergonhou-se o pequeno homem. — Mas como pode confirmar o fato de que estive aqui? Teve um espião?
  — O sereno ainda úmido sobre sua bancada, senhor. Ainda é 8h33, claro que esteve aqui uma hora atrás, quando realmente realizou-se o atentado. Não deu tempo o suficiente para que a bancada tenha secado. Agora, se não for muito incômodo para o senhor, nem atrapalhar suas vendas, gostaria de fazer-lhe perguntas — afirmei, esgotando-me a paciência, mas ainda mantendo a educação —.
  — Sim, certamente.
  — Olhando ao redor, podemos afirmar que tem uma visão privilegiada da moradia real daqui, sr. Hendrik. Baseado nisso, pode me narrar os acontecimentos reais, vistos de seus olhos? Se possível, me narre tudo o que presenciou desde que chegou aqui.
  — Talvez não seja uma descrição bastante precisa, senhor, pois estava comendo algo de costas para o palácio na hora que a multidão enfureceu-se, mas lhe contarei mesmo assim: acabara de chegar aqui eram 5h50, meu ponto de venda é preciso, não saio daqui por nada. Como minha tenda é extensa como observa, senhor, eu não fico carregando-a desmontada daqui á fazenda todos os dias; a deixo na casa de um imigrante britânico, amigo meu, Harold. Mora a um quarteirão daqui. Deixei minha mochila de costas no local onde eu costumo ficar, então, como sei que é uma área segura pelos soldados reais, fui buscar a tenda sem maiores preocupações. Estava prestes a partir para buscá-la, quando duas pessoas me surpreenderam: um jovem alto, magro e robusto, queixo largo e rosto quadrado e cabelos negros, obviamente era um imigrante; já a garota, possuía olhos cansados e cabelos soltos e encaracolados nas laterais de sua cabeça. Ele usava uma roupa simples; sobretudo marrom escuro, chapéu coco preto e defendia-se com um bigode de barbicha (não pude ver a cor de sua camisa pois os botões de seu sobretudo estavam selados), ela, uma roupa casual da moda esportística masculina, calças pretas, camisetas justas pretas, presas por um colete cinza escuro e luvas também pretas. Por Deus, meu senhor, se eu tivesse a encontrado em outra ocasião diria que era um bandido treinado. Me perguntaram se quantos guardas guardavam o castelo e se eu tinha aprofundamento em quesito conhecimento da moradia real, achei bem suspeito, mas logo foram embora com minha resposta negativa.
   "Logo após este período, por volta das 6h30, terminei de montar a tenda e de abastecê-la com meus produtos. Apanhei meus jornais da mochila e comecei a ler para esperar os clientes chegarem. Por volta de dez minutos depois, via-me adentrado numa espécie de formigueiro humano, as ruas comerciais estavam enfestadas de clientes. Deixei de lado meu jornal, e comecei as vendas que vieram bem e estão bem até agora. Depois de fazer uma boa maquia, fiz uma pausa quando era, estimo 7h15 para alimentar-me, foi então que parei no contra-fluxo da multidão para apreciá-la. Assim, quase engasguei com a fruta que estava comendo devido ao estouro que aparentava vidro quebrado,  todos na envoltura da moradia real olharam para a possível origem do som, como não encontraram nada, prosseguiram suas compras e nós, vendedores, nossas vendas."
  — Entendo, obrigado, Hendrik, Hendrik Antoon. Suas palavras foram de extrema importância para a resolução de um caso que, logo, se tornará notícia mundial. Caso tiver posteriores declarações, meu nome é Dominic Van Geboorte e aqui está meu endereço caso queira telegrafar-me — agradeci, com um cumprimento de chapéu, deixei o espaço e comecei a analisar minuciosamente os verdadeiros arredores do castelo —.
    Ao andar por aquelas bandas onde o crime havia sido cometido, encontrei Fritz, quem menos esperava encontrar tão cedo lá:
  — Dominic! — exclamou o oficial, fazendo-me cumprimentá-lo — Não esperava vê-lo aqui! Pegou o caso e nem me avisou.
  — É, eu também não esperava vê-lo, oficial. Acontece que eu quis apurar o caso com mais liberdade do que ficar esperando a polícia de Amsterdã. Antes que me pergunte, nesse ínterim foi me descrito os fatos por um senhor benevolente que, pelo que me disse, possui uma tenda de renda suntuosa. Agora, se me permite, tenho teorias para criar sobre este caso admirável.
    Já em casa, considerei o barulho de vidro quebrando com os fatos. Não consegui chegar a nada, tudo ainda era obscuro para mim. Pelos jornais, não havia relato de que mais de um vidro fora encontrado, ou que mais de outros espelhos estavam presentes, apenas cascalhos do que fora quebrado. Mas eu tinha uma coisa pista mais valiosa do que a descrição do comerciante para mim: um cartão de universidade. Era originada da faculdade de Amsterdã e estava descuidadamente riscada, o que me indiciou a uma pessoa apressada, desastrada e que, pela turbulência constante de ideias na mente, havia de fazer coisas rapidamente. O objeto era desprovido de identidades, por mais que era certamente um integrante autorizado daquele centro. Contudo, não indicava se era aluno, professor, ou nem sequer tinha uma foto. Bem, mesmo assim, eu não podia incluí-lo na minha lista negra de possíveis criminosos. Era apenas um estudioso. Foi quando tive uma ideia esplendidamente genial que não exigiu muito de  minhas capacidades.
    Avisei aos jornais locais que havia achado uma carteira de universidade nas proximidades do Palácio Real, e que seu dono deveria aparecer durante o período de 24h, ou seria apresentado á polícia para aproveitamentos deles. Com isso, logo saíram nas manchetes esse achado e dentro de quatro horas, havia um homem que se encaixava estreitamente nas descrições que o sr. Hendrik Antoon me dera: um jovem alto, magro e robusto, queixo largo e rosto quadrado e cabelos negros. Me apresentava características italianas ou até mesmo do continente africano, se sua cor de pele não fosse pálida:
  — Vim recuperar um documento que perdi, senhor. Vi seu anúncio sobre o achado nas proximidades do Palácio — iniciou o homem, direto ao ponto.
  — Senhor, nem se dignou desejar-me bom dia — enrolei, testando sua paciência para o assunto.
  — Perdoe-me, senhor. Sou um porteiro da universidade, Claus Constantino, um bom dia. Gostaria de reaver meus documentos e já irei o deixar na mais plena paz.
  — Pra quê a pressa, meu caro Constantino? Por que não estra e se ocupa de uma quente xícara de chá? Reaverá seus documentos se aceitar minha humilde proposta — insisti, querendo testar o jovem. Parecia-nos muito suspeito, para mim e para o comerciante. Mantinha uma postura desconfiada, revirava os olhos e movimentava as mãos de modo constante, assim como batia os pés expressando nervosismo.
  O jovem entrou. Mal pude ter a honra de reparar em suas vestimentas que, para a ocasião, estavam cordiais. Permiti que se apoderasse de minha única poltrona que havia na sala, enquanto fui buscar os documentos. Nisso, pude ouvir o bater dos pés ansiosos de meu hóspede na sala, o bater de seus dedos que formavam uma sintonia repetida. Fiz questão de demorar para dirigir-me à sala, acendi um cachimbo e fingi procurar o arquivo. Finalmente me dirigi á sala, e lá estava ele.
  — Aqui está seu documento, meu senhor — balbuciei, pondo-o na pequena mesa da sala, onde poderia vigiar se ele fizesse uma tentativa brusca de retomá-lo. — Mas antes, enquanto ponho nosso chá para ferver, ficaria fascinado com sua companhia até a cozinha, para termos uma discussão amigável.
    Obriguei o homem a ir na frente, para que tivesse certeza que não roubaria o documento no momento errado. Arrumava as panelas e enchia de água o recipiente para a fervura de nossa bebida, o silêncio radical que meu conhecido exilava não coincidia com minha mente barulhenta. A harmonia era desfeita a cada suspiro dele, que sabia que não estava aproveitando o momento ali:
  — Vejo que o senhor anda trabalhando muito — finalmente afirmou o jovem, quebrando a monotonia da cozinha.
  — De fato, sr. Constantino, sou um detetive. Dizem que sou um dos mais apurados de toda Amsterdã — afirmei, me exibindo, Nisso, contive o riso com a brusca mudança de expressão negativa em seu rosto, que sofria um golpe a cada palavra á respeito de minha carreira.
  — Não esperava ficar por muito tempo, meu senhor. Tenho uma portaria a zelar.
  — Eu me encarrego das possíveis consequências da sua ausência, meu caro. Apenas saboreie o chá europeu que nos preparei — disse, aproximando-lhe a xícara apoiada no pires branco, com detalhes Renascentistas azuis.
    Me dirigi para a sala, de modo que meu objetivo era que ele me seguisse. Como seu anfitrião, tive de lhe ceder conforto, novamente ofereço-lhe a poltrona que, logo após, aconchega o jovem. Em pé, pude observá-lo, finalmente, com olhos dedutivos. Usava uma jaqueta de couro marrom clara, remendada nos ombros e mangas, que passava da cintura, um sapato da mesma cor, ralados na ponta — o que concretizava o descuido que eu tinha elaborado em teoria —, suspensório preto que por trás estava uma camisa branca. Na cabeça, pendia-se uma boina marrom clara, combinando com toda a sua vestimenta.
  — Então, senhor Constantino — comecei, puxando assunto. Minha meta é que ele olhasse para cima, para que eu comprovasse uma especulação —, como é ter de trabalhar como porteiro na universidade mais famosa do país? Há muitos alunos que não se portam como deveriam?
    Meu hóspede abaixava e evitava contato visual com frequência. Abaixava a cabeça para fingir assoprar a fim de esfriar o chá excepcionalmente quente, o chapéu escondia sua expressão facial.
    Minha pergunta o obrigou a levantar a cabeça, sem vontade:
  — É, digo, é bom. Os alunos são dedicados e aplicados, não que eu participe da rotina deles em sala de aula, mas é que me relatam com uma eficiência e minuciosidade admirável. Sempre faço amizades inspiradoras, senhor, tinha de ver — disse, gaguejando em algumas partes. Me assustei com a quantidade de informações que ele me proporcionara em uma sentença admiravelmente grande. adicionando até o que não me interessava: a amizade dele com os alunos. Mas foi de grande ajuda para outra grande descoberta.
  — Admiro que o senhor seja um porteiro tão respeitável, senhor Constantino — admirei, baforando o cachimbo no ar da sala. Meu olhar foi de amigável á desconfiado, creio que o resto de minha expressão também se transformara.
  — Sim, sou sim... — afirmou, abaixando a cabeça para tomar o chá, ao invés de levantar a xícara até a boca. Notei que sua testa estava consideravelmente suada, e que coçara seu nariz mais de uma vez nesse ínterim, o que me indicava que alguma parcela do que me dissera, era mentira. Quando algum indivíduo mente, isso trás a adrenalina á tona, o que provoca coceira de nariz. Bem comum para meus métodos.
  — Tenho certeza que é, professor Vasco de Montra — disse veemente —.
    Nunca vi a expressão de um ser humano tão horrorizado, parecia que tinha visto um fantasma no momento em questão:
  — Deveria ter mais cuidado com seus hábitos mentirosos. Antes que me questione, coçar o nariz e deixar seu nome bordado no fundo da aba de sua boina, são coisas bem sugestivas. Suas vestimentas simples, dignas de um professor, também recaíram nessa minha dúvida. As suspeitas recaíram excepcionalmente sobre você, professor. Uma vez que mentira para o detetive mais capacitado da Holanda toda, e que, evidentemente, esse documento foi perdido no dia do desaparecimento da coroa, considerando que não estava empoeirado ou atingido pelo sereno na hora que o encontrei no dia. Então, senhor Montra, se não quiser ser recolhido á prisão, simplesmente não minta mais para autoridades. Acredito que tenha conhecimento da tolerância para estrangeiros mentirosos da polícia, assim, eles adorariam prender um português, como vejo neste passaporte presente em seu bolso direito. Mesmo com a falta de provas, podeira convencê-los usando meu bom argumento.
    Depois dessa chuva torrencial de verdades e descrições, sua cor ficou mais pálida ainda. Ele me implorou o documento, pois senão não poderia entrar na universidade para dar aula; o entreguei, por dó. Tinha todas notas possíveis sobre este português levado. Poderia ter sido um simples acaso, quantas pessoas poderiam ter perdido seus documentos no dia, na correria do estalido agudo dos vidros. Ele não esboçou culpa, mas certamente ficou amedrontado. O homem saiu com o passo apertado no mesmo instante que lhe entreguei o cartão. O ouvi assoviar para um cabriolé, e o fiquei acompanhando da janela até o carro se distanciar.
  — Que sujeito curioso — disse para mim mesmo, enquanto me apoderava de minha poltrona novamente.
    Pensei comigo mesmo que, eu havia achado um suspeito e, aparentemente desvendei-o: era apenas um professor de Ensino Superior, mas o velho comerciante citara dois indivíduos. A outra descreveu como uma estética de olhos cansados, com cabelos soltos e encaracolados no momento, mas não citara se também o parecia imigrante. Mas se estava com este português, deveria ser quase inocente também. Considerei os fatos, qualquer um poderia ter roubado a coroa do Palácio Real. Alguém que queira fortuna, que nunca teve este poder aquisitivo. Que poderia mudar de seu território nativo para tentar uma nova vida, em um novo lugar: o que descreve os motivos imigratórios. Porém, Portugal é um país bem estabelecido, não haveria tantos motivos para imigrar para um país praticamente vizinho como a Holanda, que fala um idioma completamente distinto do habitual deles. Já a garota, poderia ter vindo de qualquer região asiática, se considerarmos os olhos cansados como se o comerciante quisesse dizer como se estivessem puxados. mas se considerarmos Japão, ambos os elementos não teriam motivos gritantes para a imigração, pois estes países têm o índice alto em questões de desenvolvimento humano. Mas os habitantes japoneses não possuíam cabelos encaracolados, realmente uma questão confusa.
    Me vi como um idiota, estava acusando pessoas e nem sequer visitei o local do crime. Assim, telegrafei para a coroa holandesa, informando a importância do caso em questão. Em fração de algumas horas, fui respondido positivamente. Aprontei-me da forma mais cordial possível: pus meu colete verde escuro que vinha até a parte detrás de meus joelhos, e uma camisa envolta de uma gravata preta por baixo, apoderando-me de minhas calças mel claras. Cerreis os botões dourados de meu colete, e estava pronto. Apanhei o meu melhor chapéu coco preto e saí. Saltei dentro de um cabriolé e, para sustentar meus vícios mundanos, abasteci meu cachimbo e fumei-o até chegar ao meu destino.
    Lá, assim que saltei do carro, um cavalheiro cordialmente vestido me acolhera, dizendo-me para segui-lo. Enquanto andava em minha frente, reparei que só poderia ser o garçom real, em suas mangas que tentava transparecer limpas, havia algumas sujeiras de comida, certamente. Sua vestimenta preta e seu cabelo quase totalmente calvo, indicava que o mesmo tentava exalar que era dedicado á Sua Alteza. Passamos pela entrada principal do Palácio onde tudo deveria ter ocorrido pois, pequenos cacos de vidro do espelho eram perceptíveis á luz, e cintilavam enquanto passava-se por eles. Fui conduzido, então, á um salão charmoso, onde havia bancadas e mesas cobertas por panos vermelhos, rendados de um tecido dourado. Algumas paredes cobertas por este mesmo tipo de tecido e, então, a bancada que havia uma almofada escarlate, rendada perfeitamente á mão, com tufos deste mesmo tecido pendentes na borda. Via-se uma certa profundidade no meio desta almofada tão sugestiva. Certamente, era onde a coroa deveria estar.
    O criado Real mandou-me esperar um instante enquanto o Rei dos Países Baixos — Guilherme III — vinha. Esperei por cerca de uns quinze minutos, fitando todas as pistas que poderia ter antes que o Rei me mandasse examinar. Portanto, via-se no chão e nas enrugas dos tapetes, pequenas manchas de sangue, que, obviamente, não eram causadas por golpes, e sim, pancadas involuntárias no chão. O que me levou a considerar o desmaio. Alguém desmaiou todos os homens que estavam presentes naquele salão, protegendo a coroa; o jornal matinal citou a possível morte de soldados internos. Levantei-me para obter uma análise mais concisa das hipóteses, andei por entre as cadeiras, na frente da porta e perto da almofada que aconchegava a coroa e descobri que havia um pó branco concentrado numa dobra do tapete, e algumas pitadas dessa mesma solução no artefato que confortava a coroa. De repente, tudo veio a tona. Antes que eu pudesse pular de alegria, o Rei entrou no salão e flagrou com um sorriso quilométrico:
  — Vossa Alteza, Guilherme III, desculpe a audácia que me permiti andar por esse cômodo. Gostaria de deixar todos os fatos o mais claro possível para o senhor — disse, num cumprimento envergando-me e retirando meu chapéu.
  — Ora, meu nobre cavalheiro. Sua presença neste recinto já me é reconfortante. Por favor, sente-se para que possamos apurar os fatos que desgraçaram minha manhã — soltou o Guilherme III, num ar de gratidão e medo ao mesmo tempo. Sua voz me era trêmula e insegura.
    O governante de meu país, nunca o vira pessoalmente. Nesta ocasião, vestia-se como um militar governante do exército. Sua vestimenta de um verde escuro, estava envolta de algumas rendas douradas e em seus ombros, pendia-se ombreiras douradas com rendas dependuradas. Cheguei a associá-las a escovas de cabelo, mas contive o humor. Bordava-se seus ganhos na parte superior esquerda de seu tronco. O que me indicava que não era novato na militância. As mangas de seu casaco eram bordadas com os mesmos estilos reais dourados. Na cintura, um cinto de ouro apertava-o em suas vestimentas. Este mesmo casaco encerrava-se um pouco antes do joelho, cobrindo a parte superior de suas calças com listas cor de ouro. Mesmo com sua barba cheia, punha em mais destaque em seu bigode volumoso e sua cabeleira negra, cheia.
    Sentamo-nos confortavelmente no estofado escarlate, confortável para ouvir todos os possíveis rumos que o Vossa Alteza poderia descrever. Tirei meu caderninho do bolso, uma brochura simples que acompanhava minha caneta tinteiro e neste mesmo momento, o Rei começou:
  — Oh, uma caneta-tinteiro! — exclamou num tom surpreso — Deve partir de uma família muito nobre, cavalheiro, para possuir uma caneta-tinteiro, algo que foi patenteado há apenas três anos.
  — Quem dera, meu Rei. Ganhei esta de um tio que imigrou para os Estados Unidos. Ele sim pertence á uma grande nobreza, mas o resto da família é desprovido de tal maquia. Detetive não é uma daquelas carreiras suntuosas que se possa orgulhar. A respeito da caneta, esta criatura inanimada possui uma história admirável: tudo iniciara com um incidente desagradável. O corretor de seguros norte-americano Luwis Edson Waterman perdeu um grande negócio porque borrara seu contrato ao fazer cair seu tinteiro no mesmo. Daí surgiu as primeiras ideias para este artefato.
  — Realmente, meu senhor — concordou, parecendo esquecer o caso que lhe ocorrera naquela mesma manhã.
  — Voltemos ao real motivo para que lhe devo esta presença, Vossa Alteza — afirmei retomando a seriedade. — Se importa de me narrar os fatos com a mais concisa precisão que puder? Se me faz o favor, narre um pouco antes dos acontecimentos.
  — Oh, sim — fez uma pequena pausa, depois começou. —Reconheça, meu senhor, o fato que vivo um casamento completamente infeliz. Casei-me com minha prima-irmã Sofia, filha do Rei Guilherme I de Wüttemberg e da grã-duquesa Catarina Pavlovna da Rússia, em Junho de 1939. O desenvolvimento real de nosso antagonismo deve-se ao fato de que Sofia é uma intelectual liberal, odeia tudo relacionado a ditadura e armada. Já eu, sou um simples conservador amante do exército. Outro ponto em que venhamos a discordar, senhor, é que eu abomino completamente as modificações feitas por meu pai e Johan Rudolf Thorbecke na constituição de 1849, pois quero governar como meu avô Guilherme I, e Sofia as enxerga como a primordial saída para a sobrevivência monarca nesses anos de mudança. Com isso, estabeleci uma regra que Sofia quebrara esta manhã: não discutiremos como deverei reinar. Com a quebra arrogante, tivemos uma discussão não muito amigável, porém nos violentamos verbalmente. Foi quando Sofia soltou que me estava traindo com um estrangeiro, e isso cortou meus pés diante de espinhos, senhor... Desculpe, não perguntei seu nome.
  — Dominic Van Geboorte, meu senhor.
  — Claro. Voltando, me senti perdido. Ela afirmou que fugiria com o mesmo se não fosse o segurar de nossos filhos Guilherme, Alexandre e Guilhermina. Mas não entendi seus argumentos, senhor, pois nossos filhos já atingiram a fase adulta e não há de a segurar num relacionamento.
    "Alguns instantes depois de um abusivo café matinal, ela sumiu. Por mais que tenhamos tido aquela briga, ela desaparecera e eu mandei meus soldados atrás dela. Entretanto, é claro que ela não gostaria de deixar sua escapada óbvia e nítida. Lembrei-me então, que ela uma vez dissera que, se nosso Palácio uma vez estivesse em chamas, ela fugiria pela grande janela de seu quarto. Foi então que tive a ideia de subir apressadamente em seu quarto, para que eu pudesse obter uma pista de seu paradeiro ou coisa do gênero. Lá em cima, já não tinha achado nada, nem sequer uma pegada, apenas um único afundamento no gramado do jardim detrás. Por Deus, meu senhor, cogitei que ela tivesse se jogado como tentativa de suicídio que não fora bem sucedida. Mas a janela mantém uma distância perigosamente alta do chão, o que debilitaria seu andar se tivesse sobrevivido.
   "Então, tranquei-me em seu quarto, enrolava em minha mente os porquês de minha mulher ter feito isso, estava claro que não mantínhamos uma relação saudável, mas fugir do Palácio Real, no coração de Amsterdã, é muita ousadia mesmo para ela. Joguei-me no seu colchão, e lamentei as vezes que fui duro com ela, senhor Van Geboorte, e levantando-me dessa ilusão de que deveria estar arrependido, fui procurar em suas coisas as possíveis cartas de amor e de comunicação com seu amante, mas não achei nada de muito sugestivo. Depois, decidi que escreveria uma carta para ela anunciando o divórcio. Estava assinando a carta, molhando uma última vez a pena no tinteiro, quando escuto um barulho de vidro se quebrando. Não fiquei muito alerta, senhor, admito, pois uma de nossas criadas é extremamente desastrada. Voltei-me a carta e a finalizei, envelopando-a e pondo-a em cima de sua escrivaninha feita de madeira escura, de maneira que ficasse bem visível para se caso voltasse destes seus repentes fugitivos. Como a maioria de meus soldados foram a procura de minha mulher, o castelo ficou pouco menos protegido, pois confio á linha de frente guerreiros responsáveis. Havia soldados protegendo a coroa no salão que estamos agora mesmo, senhor, e outros na sala ao lado. Logo após finalizar meu tempo reflexivo no quarto de Sofia, decidi sair e foi quando deparei na cena os jornais descrevem com tanto ênfase: todos os meus soldados estavam mortos na frente da porta, senhor, todos. Havia uma com a garganta cortada e com a espada desembainhada em mãos, dando a ilustre impressão que tinha se matado.
    "Deparado com essa cena, gritei para as criadas que estavam em seus quartos, tão alto, mas tão alto, que imagino se os comerciantes lá fora não ouviram. Todas vieram num desespero indescritível, me ajudando a retirar todos os corpos mortos e colocá-los no jardim. Meu desespero, num estalido mental, me conduziu á este cômodo que estamos, para checar se coroa ainda se encontrava em seu devido lugar, e também não estava. Assim, pude ver que o criminoso teve de agir lá também, liquidando os soldados deste e do cômodo vizinho. Foi assim, senhor, que meu pesadelo começou e se estende até agora, assim como Sofia ainda me preocupa levemente por ainda não ter voltado. Para ter todo este planejamento minucioso, só alguém que conhece o Palácio Real seria capaz de desenvolvê-lo, senhor Van Geboorte."
  — Que narrativa mais agradável, Vossa Alteza — me permiti dizer ao assassinar o silêncio de minha parte. — Acha que algum conhecido de Vossa família poderia ter exposto os senhores a este roubo?
  — Não temos inimigos, senhor. E as únicas visitas que recebemos, são nossas famílias.
  — Acha que uma de suas criadas poderia ter permitido o fácil acesso ao Palácio? Ou até mesmo sua esposa? — apelei, pois estava tendo minhas considerações em base de minhas anotações.
  — Ora, meu senhor! Isto é um insulto a mim e minha mulher! Sob que motivos e circunstâncias roubaria minha mulher a coroa? Não seria a questões de riqueza, pois sempre a obteve — exclamou num tom raivoso, franzindo a testa, o Rei —.
  — Há de considerar o impossível, meu Rei, ou morrerá afogado em suas obstinações — atrevi-me, levantando-me e guardando meus objetos de escrita. — Agora, se não se importa, eu analisarei o Palácio e vos darei maiores informações assim que possível, Majestade.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Maratona de Livros #7: Sherlock Holmes - O Sinal dos Quatro


    Escrever sobre o primeiro volume do conjunto que comprei, é muito amplo e vago. Pois nele contém vários contos e ás vezes romances que se prezem. Por isso, vou sempre escrever sobre os  romances de Doyle, que são obras normalmente maiores e mais ricas em detalhes. 
    A prosa descritiva do autor não deixa de maravilhar os olhos e a mente de quem lê, pois leva consigo uma maleta com o universo dedutivo de Sherlock Holmes. Neste romance, apresenta-se a moça Mary Morstan, que recebe uma pérola por ano por intermédio do correio, sem qualquer menção de seu remetente. Esta mesma mulher não tomou o conhecimento que estava uma herança que deveria ser dada a ela por direito. Ao mesmo tempo, um tesouro desaparece e a morte de um dos gêmeos Sholto intriga o alto poder analítico de Holmes, assim cogitando a presença de um homem de perna de pau. As habilidades dedutivas de Sherlock são postas em prova, uma vez que descobrira de onde o assassino realizou o crime, com que arma, e como conseguiu escalar tendo uma perna de pau suspensa em seu toco. Watson descreve as feições deste homem como "horrendas" e de pele parda.
    Arthur Conan Doyle impões valores humanos destes homens uma vez que, neste romance, Watson se casa com a senhorita Morstan. Declarando-se para ela no meio da investigação minuciosa, que fazia com seu melhor amigo Holmes.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Maratona de Livros #6: Sherlock Holmes - Um Estudo Em Vermelho

    Certamente, todos de vocês já ouviram falar do famoso detetive Sherlock Holmes, homem conhecido por habilidade de dedução e análise apurados, que vêm encantando o mundo da literatura policial desde 1887; quando seu autor Arthur Conan Doyle publica seu primeiro romance — Um Estudo Em Vermelho. "Todo mundo sabe quem foi o detetive Sherlock Holmes, pode enumerar boa parte de seus hábitos ou objetos preferidos e repetir algumas de suas frases célebres. Mas o fato é que esse notável cavalheiro britânico, 'jamais viveu e nunca morrerá'", descreve O Globo.
    Comprei o conjunto de livros da obra britânica há um mês e já engoli o primeiro livro massivo, de quinhentas e onze páginas. O primeiro livro é um a coletânea das várias viagens de Holmes dentre este mundo investigativo, junta: Um Estudo Em Vermelho (romance), Sinal dos Quatro (romance) e As Aventuras de Sherlock Holmes (contos). Todos esses livros são vendidos separadamente, mas pelo conjunto que comprei, vieram compilados em um só. Entretanto, são quatro volumes, cada um com dois ou três livros juntos. Ainda há vários contos vendidos separadamente destes, que são brochuras mais finas.
    Seu autor teve feito tentativas frustadas de publicar um livro, que cativasse as pessoas, sobre dedução. Até que, em 1887, publicou a primeira obra do detetive, que foi recebida com muito clamor e veemência. Holmes foi inspirado num colega de trabalho de Conan Doyle, quem deduzia coisas com muita facilidade e precisão, levando, assim, a que fosse rendido á tentação da escrita. Arthur era formado em medicina e exercia a profissão de médico até o estopim de sua obra, quando abandonou a medicina e foi dedicar-se exclusivamente á escrita.

Sherlock Holmes: volume 1- Um Estudo Em Vermelho:

    John Watson acaba de retornar de sua missão como médico no Afeganistão, procurando uma estadia fixa e rendável, é aconselhado por um amigo que conhecesse Sherlock Holmes, que também estava a procura de um imóvel, Marcaram de se encontrar, e lá estavam eles dividindo apartamento, quando Holmes esboça os primeiro sinais de suas excentricidades: introversão, sociopatia, individualismo. Porém, seu parceiro, Watson, não se desaponta, até que o detetive e ele começam suas expedições criminalísticas. O médico sempre acompanhava o cavalheiro alto, dono de uma magreza absurda e de métodos dedutivos impressionantes. Sherlock mostrou suas habilidades quando um caso de assassinato — que fizeram transparecer envenenamento — se pôs em seu caminho, impressionando Watson de maneira imensurável.
   Empermeado de possibilidades, Holmes afirmou que o assassinato deveria ter sido feito por alguém que sempre está na cidade, entre a multidão, mas ninguém o enxerga. O corpo, liquidado por um ótimo estrategista, não apresentava sinais de agressão ou violência. Assim, Sherlock deduziu que o homem foi envenenado por um cocheiro, por motivos de vingança. Com a prosa magnífica de Doyle, fora empregado elementos que desviassem nossa atenção, para deixar o brilhante detetive trabalhasse.
    Depois da prisão imediata de Jefferson Hope, assassino, foi narrada uma história do motivos do feito, mas nada que retirasse a culpa de cima dele. A bela descrição foi muito bem elaborada, Doyle deve ter trabalhado muito nisso, imaginando-a dos pés á cabeça, contando que Jefferson Hope habitava cidade afastada em Utah, que vivia um romance com uma jovem. A mesma e ele, tinham planejado de fugir, junto á seu pai, quando, depois da caça, já na fuga, voltara e não vira ninguém. Logo após, via sua amada casando-se forçadamente com seu inimigo, que possuía um cargo de alta importância no governo daquela província. Seu mais novo arque-inimigo, foge para a Europa quando considera matá-lo, Jefferson estava certo segui-los até o inferno se fosse preciso, para obter sua devida vingança. Contudo, não tinha dinheiro para ficar migrando assim tão radicalmente, quando finalmente conseguiu ir ao país que seus malfeitores estavam, os mesmos sempre imigravam novamente. E foi assim até que finalmente os pegou em Londres, usando métodos para distrair a atenção da polícia, escrevendo "Rache" com sangue no papel de parede do cômodo em que houve o assassinato. Ligando os pontos, Holmes conseguiu decifrá-lo e, finalmente, prendê-lo.
    É claro que a obra espetaculosa de Arthur Conan Doyle se estende e apura muito mais detalhes do que os que descrevi aqui, que são rasos. Se você quiser começar a ler, preciso te avisar algo: se incline para este livro somente se você quiser ficar extremamente viciado, devoto á ele, pois é altamente viciante.
   
     Evidentemente, a minha grande inspiração para escrever os contos de minha própria autoria aqui no blog, foi a obra britânica Sherlock Holmes. Que, rapidamente, conseguiu me fisgar para as entranhas de seu fascínio com muita facilidade.